Mark Seliger em registro feito para dois meses antes do suicídio de Kurt Cobain e Harry Benson no momento em que os Beatles descobrem que estão no topo
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Em tempos de massificação da fotografia, com incontáveis pessoas carregando uma câmera digital no bolso e zilhões de imagens circulando e sendo compartilhadas na internet, esse é o mínimo requerido por qualquer fotógrafo profissional. Mas para o americano Tim Mantoani, alguns registros históricos — como o de crianças fugindo de uma aldeia atacada com desfolhante químico napalm pelas tropas americanas, durante a Guerra do Vietnã, em 1972, feito por Nick Ut — merecem mais do que isso. Merecem, por exemplo, a revelação do rosto do autor. Foi o que Mantoani fez, no recém-lançado livro "Behind photographs: archiving photographic legends" (Hardcover, importado), que traz 158 imagens de criadores e suas inesquecíveis criações.Lá estão, entre outros, os Beatles celebrando o primeiro lugar na parada de sucessos nos Estados Unidos, em 1964 (Harry Benson); o homem em frente aos tanques, na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989 (Jeff Widener); a clássica imagem da garota afegã de olhos marcantes, publicada em 1984 na "National Geographic" (Steve McCurry) e uma insinuante Marilyn Monroe, enrolada em lençóis, em 1961 (Doug Kirkland).
— Quase todo mundo conhece essas imagens, mas poucos sabem quem são os autores — conta Mantoani. — Acho que é muito importante que as novas gerações saibam quem são essas pessoas, que dedicaram suas vidas à fotografia. Afinal, não foram as câmeras que criaram essas imagens, e sim os fotógrafos.
Como um justiceiro da arte de fotografar, Mantoani deu não apenas o devido crédito, mas também um tratamento de luxo para cada um desses autores. No livro, eles aparecem segurando uma ampliação dos seus trabalhos, em fotos feitas em Polaroid 20x24, um formato quase extinto e caríssimo (segundo Mantoani, cerca de US$ 200 por cada revelação).
— Esse é um formato mágico e único, que está quase perto da extinção. Ele me ajudou a ganhar o respeito desses profissionais e foi muito importante para atraí-los para o projeto do livro — revela Mantoani.
Foram necessários pouco mais de cinco anos para que Tim Mantoani concluísse o projeto de "Behind photographs: archiving photographic legends", iniciado a partir de uma inquietação pessoal do autor.
— Em 2006, reparei que há muito tempo não fazia uma foto com filme e num formato maior, por causa da evolução da técnica digital, que tinha absorvido quase 100% do meu trabalho — conta Mantoani. — Por conta dessa espécie de nostalgia, me reuni com amigos fotógrafos e pedi que trouxessem suas imagens preferidas de todos os tempos. Desse encontro surgiu a ideia de fazer o livro. O formato Polaroid 20x24 foi um aperfeiçoamento dessa ideia.
Depois do clique inicial, o trabalho de Mantoani foi encontrar os autores dessas clássicas imagens e atraí-los para a frente de sua própria câmera. Para isso, ele viajou por diversas cidades americanas, em busca desses mitos sem face, numa espécie de on the road fotográfico.
— Foi uma verdadeira jornada. Por causa do formato, em Polaroid, o ideal era que todos eles viessem ao meu estúdio, em San Diego, mas isso seria muito difícil para a maioria. Então, peguei a estrada atrás deles. Alguns foram muito difíceis de encontrar, e outros mais difíceis ainda de colocar em frente à câmera. Tive que ser muito persistente e não desistir nunca. No fim, não consegui todos os registros que queria, mas fotografei bem mais do que imaginava. Vale ressaltar que dois grandes nomes incluídos no livro, William Claxton e Julius Shulman, não estão mais entre nós, e considero uma honra ter feito essa última homenagem a eles.
Em "Behind photographs", foi pedido a todos os fotógrafos que fizessem uma pequena legenda que descrevesse o seu momento histórico.
— Alguns foram sintéticos e outros foram mais descritivos, mas todas as legendas revelam um pouco da personalidade desses mitos — diz Mantoani.
Steve McCurry, autor da famosa foto da menina afegã que virou capa da revista "National Geographic", escreveu:
"Passei 17 anos procurando essa menina e finalmente a encontrei em 2002. Seu nome é Sharbat Gula."
Mark Seliger, que fotografou Kurt Cobain, disse:
"Essa foto, a minha primeira em Polaroid, foi bastante reveladora do espírito dele naquele momento. Dois meses depois, Kurt se matou e a foto se tornou capa da revista (‘Rolling Stone’) dedicada a ele."
Além do livro, Mantoani planeja uma exposição itinerante com o resultado do seu trabalho. Mantoani só descarta uma exposição on-line.
— Essas imagens ficam ainda mais impressionantes em grande escala, e a exibição vai comprovar isso. E, embora eu adore a ideia de compartilhar esses registros com o maior número de pessoas possível, uma exibição on-line não faria justiça a esse material.
Fonte: O Globo
Para acessar o post original, clique aqui!
0 comentários:
Postar um comentário