Câmera Mamute
A palavra Câmera surgiu dos manuais em inglês “câmera”, quando o primeiro “a” manteve o acento português e o segundo virou “e”. O “Manual de Redação e estilo d'O Estado de São Paulo” de autoria do mato-grossense Eduardo Martins, uns 40 anos moldando textos de jornalistas daquele jornal,
recomenda o uso de CÂMERA para equipamento fotográfico, recomenda Câmara dos Deputados, Câmara Municipal e Música de Câmara. Câmara é o quarto ou recipiente onde não entra luz. Câmara Clara, no original Camara Clara, obra de Roland Barthes.
A Revista Veja utilizava CÂMARA. Borris Kossoy usa câmara em sua literatura. Os pesquisadores Mônica Junqueira de Camargo e Ricardo Mendes, em sua obra "Fotografia", utilizam Câmara.
Vilém Flusser, filósofo da imagem, sempre usou "Câmara", embora tenha se voltado para o "aparelho" com seu sentido próprio de "conjunto de máquinas ou órgãos", como p.ex. aparelho digestivo.
Arlindo Machado, professor da ECA/USP na área de comunicação visual, autor que também faz bom uso de "câmara", autor de "A Ilusão Espetacular", "A Arte do Vídeo, Máquina e Imaginário", ao fazer a apresentação do "Ensaio sobre a Fotografia", de Vilém Flusser, deixa bastante clara a abrangência do "aparelho" quando diz: "Em circunstâncias habituais o fotógrafo vive o totalitarismo dos aparelhos. Os seus gestos são programados, a sua consciência e sensibilidade têm caráter robotizado. Alguns fotógrafos mais inquietos lutam contra essa automação estúpida, tentam "enganar" o aparelho introduzindo nele elementos não previstos, restabelecendo a questão da liberdade num contexto de dominação das máquinas. Muitos desses aparelhos acabam por ser novamente recuperados pelos aparelhos, como revelação de possibilidades até então desconhecidas, mas imediatamente catalogadas no repertório de suas categorias." e conclui "Uma filosofia da fotografia deve ter por função intervir nesse jogo, aprofundando as suas contradições e desmascarando os seus limites."
Esta abordagem poderia não ter fim se enveredar pela filosofia da técnica. Assim, voltando à gramática ninguém melhor do que um conhecido fotógrafo Mário de Andrade, que se vale de "câmara" em toda sua correspondência pessoal ("Cartas a Manuel Bandeira - 1922-1924"), como também nas publicações da revista "Klaxon", onde escreve a coluna "Cinema", sob diversos
pseudônimos (M. de A.; G. de N. e R. de M.).
Ilustração: Câmara Mamute: No início do séc. XX época áurea dos caminhos de ferro, no lado oeste dos Estados Unidos, a fotografia dá os primeiros passos. De uma ligação improvável, sob o mote “A maior fotografia no mundo, do mais belo comboio no mundo”, eis que nasce a Câmera Mamute, com o intuito singular de fotografar em grande plano a composição estrela da Chicago & Alton Railway: The Alton Limited. O seu autor, George Raymond Lawrence, (1868-1938) é, provavelmente, um nome pouco familiar para a maioria das pessoas, mas decerto muito importante na História da Fotografia.
Fonte: Enio Leite
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